Memorial
Do meu primeiro contato com a escola tenho apenas flashs, não recordo de muita coisa. Lembro-me que minha professora era muito brava, que eu tinha medo dela, mas adorava estudar.
Certa vez, fui para a escola com catapora, fugi sem que minha mãe visse, pois detestava a idéia de perder aula.
Meus pais são analfabetos e o discurso que cresci ouvindo foi “a gente é pobre e só pode lhe dá estudo pra ser alguém nessa vida”.
Em casa, contato com livros só os que arranjava na escola, o que demorou a acontecer. Leitura e prazer não eram amigos, nem companheiros.
Descobri o encanto dos livros sozinha e a partir daí vivia lendo. Comecei a ouvir de pessoas próximas que outras haviam enlouquecido de tanto ler, porém não tinha esse medo.
Ler e escrever, na escola, resumia-se ao que duas educadoras tão bem definem:
“A essa escrita falseada falta um processo de retorno, pois falta, igualmente, um leitor à vista ou mesmo simulado. Nem mesmo o professor que vai ler os textos dos alunos costuma assumir esse papel de leitor, atropelado que é pelo de corretor. É difícil, nessas condições, isto é, sem saber para quem está escrevendo, alguém tentar ajustar-se ás condições da interação [...] Escrever é uma atividade:De interação;
Cooperativa;
Contextualizada;
Necessariamente textual;
Tematicamente orientada;
Que envolve, além de especificidades lingüísticas, outras, pragmáticas;
Que se manifesta em gêneros particulares de textos;
Que retoma outros textos”.
Antunes, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo:Parábola Editorial, 2005.
“[...] para a maioria, as primeiras lembranças da leitura são a cópia maçante, até a mão doer, de palavras da família do da, “Dói o dedo do Didu”; a procura cansativa, até os olhos arderem das palavras com dígrafo que deverá ser sublinhado naquele dia; a correria desesperada até o dono do bar que compra o jornal aos domingos, para a família achar as palavras com a letra J. Letras, sílabas, dígrafos, encontros consonantais, encontros vocálicos, “dificuldades” imaginadas e reais substituem o aconchego e o amor para essas crianças, entravando assim o caminho até o prazer”.
Kleiman, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 2007.
Acredito que me enquadro nessas citações. Ninguém, nessa época, leu para mim, acho que isso me marcou e reflete em minha vida hoje, como mãe e como professora, porque o primeiro presente que dei a meu filho foi um livro e, atualmente, já alfabetizado, temos momentos reservados à leitura, ora leio para ele, ora ele lê para mim.
Com meus alunos não é diferente, tento, às vezes com sucesso, às vezes sem, incentivá-los a ler.
Como, agora, trabalhamos a partir de gêneros, procuro dá sentido às atividades de leitura e escrita, de acordo com a função sócio-comunicativa do gênero em questão. Por exemplo:
Poema - organizamos (os alunos e eu) um sarau para os pais com obras de autores famosos e textos dos alunos.
Textos jornalísticos – produzimos o jornal da escola o qual circula na cidade.Crônica – fizemos um intercâmbio on-line com o autor da obra em estudo e elaboramos uma coletânea com nossas produções para a biblioteca da escola.
Muita coisa mudou desde minha infância até os dias atuais (ainda bem!), acredito que são poucas as escolas em que os alunos escrevem apenas para o professor e lêem somente para preencher fichas.
Professora Silvânia
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